Quem nunca ouviu os ditados: “Para baixo todo santo ajuda…” ou “Quanto maior a altura, maior o tombo…”. Mas será que do ponto de vista da física e se aplicados conceitos sobre conservação de energia, esses ditados estão mesmo corretos? Foi em busca de respostas para perguntas como essa que alunos do ensino médio da Escola Estadual de Melo Viana, do município de Esmeraldas, interior de Minas Gerais, desenvolveram em 2012, o projeto: ‘Física no tubo-água: uma experiência motivacional para aprendizagem significativa’.
Orientados pelos professores de Física, Geizi Américo Reginaldo e Viviane Barbosa Martins, o projeto teve como objetivo identificar como a utilização de uma atividade em um pesque-pague pode potencializar o ensino da Física e permitir a apropriação do conhecimento através de práticas individuais e coletivas experimentadas em um tubo-água, uma gangorra ou num passeio de tirolesa.
Para o professor Geizi Américo, o catalisador da atividade foi a preocupação com o desinteresse dos alunos para aprender Física e as áreas de ciências, de um modo em geral. “Fazer qualquer outra coisa ficou mais atrativo para os alunos do que estudar Física. Os alunos preferem, por exemplo, as tecnologias digitais”.
Tudo começou quando alunos de quatro turmas dos primeiros anos do ensino médio foram estudar o tema conservação de energia em sala de aula e dali surgiram vários questionamentos. “Percebemos que apesar das dificuldades em explicar a teoria, os alunos estavam curiosos, por isso, se fosse possível elaborar uma atividade em que eles pudessem ser protagonistas, com recursos metodológicos adequados para fazer uma releitura dos conceitos teóricos, eles poderiam vislumbrar na prática a teoria estudada em sala de aula”, relembrou o professor.
Depois de cerca de um mês de aulas temáticas semanais envolvendo situações variadas como salto de bungee jumping, salto com vara, entre outras que valorizaram fenômenos simples do dia a dia, o próximo passo era a visita ao pesque-pague para aplicar a teoria estudada.
Cada turma, com cerca de 30 alunos, foi dividida em grupos de até cinco alunos e o roteiro de investigação, bem como a escolha da atividade que seria contextualizada, ficou a cargo dos mesmos. Foram desenvolvidas atividades na tirolesa, na gangorra, no balanço e ainda no tubo-água, que virou o relato de experiência.
O tubo-água
Conforme explicou o professor, a investigação no tubo-água foi pensada em termos de forças inerciais, gravitacionais e centrípetas, onde as lâminas d´água tinham a função de diminuir o atrito para que a descida ocorresse com mais facilidade. Dois grupos realizaram as atividades, sendo que em um deles os próprios integrantes desciam e no outro foram utilizados objetos de massas diferentes (1kg e ½ kg com o mesmo formato geométrico). Também foram aplicados conhecimento sobre força de arrasto, forças de atrito cinético, quantidade de água e deslocamento do fluxo líquido.
Munidos de trenas, barbantes, máquinas fotográficas, cronômetros, filmadoras, além de papel e caneta, partiram para a experimentação e a observação, sendo que todos os dados foram coletados pelo menos em dez tentativas. Na hora de colher os resultados, a surpresa: conceitos estudados em sala de aula como o “Princípio Geral de Conservação da Energia” e a “Conservação da Energia Mecânica”, não foram comprovados na prática. “Depois das análises e cálculos os alunos perceberam que havia alguma coisa errada, pois a diferença entre as energias Potencial Gravitacional, no alto do tubo-água e a Energia Cinética de chegada à base eram muito diferentes”, revelou o professor.
O que poderia ter sido um problema ajudou a fomentar novas discussões e ampliar ainda mais a investigação. “Várias questões começaram a surgir a partir dessa incompatibilidade entre teoria e prática e a partir delas refizemos análises considerando as observações dos alunos”, afirma Geizi Américo.
Ao final, os resultados comprovaram o impacto que a atividade causou no raciocínio lógico dos estudantes. “Essa atividade comprovou que a consolidação da aprendizagem, a apropriação e a construção de conhecimento deles em relação aos conteúdos de Física, ocorrem de maneira sistemática na vivência das atividades e nas observações individuais e coletivas”, comemorou Giezi.
O projeto: ‘Física no tubo-água: uma experiência motivacional para aprendizagem significativa’ foi escolhido pelo público como melhor projeto do ensino médio durante a ‘XIII UFMG Jovem’, ocorrida no final de 2012. “Já fomos premiados na UFMG em dois anos consecutivos (2011/2012) e ser escolhido pelo público como melhor projeto foi uma surpresa que nos incentiva a ir ainda mais longe nas pesquisas”, ressaltou Welbert Moreira, 15 anos, um dos integrantes do projeto. Devido à premiação os estudantes também foram homenageados pelo Poupança Jovem, de Esmeraldas.
O relato da experiência está disponível para consulta, no https://www.ufmg.br/proex/ddc/ufmgjovem2012/docs/mtrab/08-fisica_no_tubo_agua.pdf
Município: Esmeraldas/ Superintendência Regional de Ensino Metropolitana B
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